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Às portas da morte...vi a vida

   Passo a passo, o cortejo seguia ao som plangente dos sinos.

   Descemos lentamente a encosta que vem da igreja paroquial, serpenteamos o pequeno percurso que nos conduz ao cemitério.

  A paisagem cresce ao longe e ao largo e os seus horizontes falam-nos de infinitude! Que bela paisagem podem os vivos disfrutar enquanto acompanham ou visitam os mortos!...

   Ali mesmo, à porta da morte, eu vi a vida! Sim , por entre ervas secas a que foi deitado fogo para destruir os lixos, emergia das cinzas uma flor, tão singela a que o povo dá o nome de açucena de S. José.

   As folhas caíam suavemente das árvores e atapetavam o chão de um colorido belo que apenas a natureza sabe fazer.

   É muito lindo o Outono nesta região!... Um misto de imponência e de nostalgia torna mais belo ainda este ambiente!...

Mas, aquela flor ficou na minha memória a perpetuar a reflexão que acabara de partilhar na Igreja.:

"A vida é mais forte que a morte!..."

  Tempo de finados! O pensamento voga no mistério da morte e multiplicam-se as interrogações de sempre. Crentes e não crentes buscam resposta, por caminhos diversos, na ânsia de encontrar uma palavra que satisfaça este desejo de vida que existe em nós.

   Pensei que aquela florinha, como sinal de Deus que é, nos trazia uma mensagem vinda do Além.

   A morte, pese embora a dureza da separação e da tristeza, é apenas aparente. Morrer é apenas condição de vida! A morte mata esta certeza de morte que nos acompanha e abre-nos a porta da eternidade onde não mais haverá morte.

   "Se o grão de trigo não morrer..." morre, porque matou a vida nesta recusa de morrer...

   Perante o desespero e a angústia e mesmo a revolta de muitos, os cristãos anunciam que Cristo Ressuscitou! Isto quer dizer que Ele voltou vivo do reino dos mortos: Significa que Ele solidário com todos os humanos semeou no coração de todos a Esperança:

 "Haveremos de ressuscitar."

   Aquela flor, ressurgindo das cinzas, estava ali à porta da Morte para nos falar da Vida!...   

 

 

  Bouça Pires

Novembro de 1992

 

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