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Outono em Cambres

Verde, Vermelho e Amarelo

   Tentem sentar-se um pouco num pequeno miradouro, no cimo ou no fundo de uma encosta. Olhem serena e tranquilamente a paisagem que frondosamente se estende diante dos vossos olhos.

    Que espetáculo é esse , deslumbrante e policromado que tendes diante de vós, subindo ou descendo colinas, encostas e montes enfeitados como se de festa se tratasse?!

   E não será festa todos os dias, mesmo quando a natureza se despe, para se revestir de novo com outros trajes diferentes, mesmo se de morte se tratar? Não será a morte o culminar da vida?!...Alegrar os corações de quem chora é dever de solidariedade dos que vêem morrer?!...Há tão pouca gente a alegrar-se quando vê algo ou alguém a nascer!... Surgem tantos presságios de morte que esmagam o futuro... A Vida é uma festa e tantas vezes a convertemos num enterro, mesmo se os enterros assumem ares de festa.

   É belo o ciclo da vida e mais belo ainda, aqui nesta região do Douro onde a natureza comunga do contributo generoso do criador. Aqui o trabalho gigantesco do homem, unido à dádiva generosa do criador, ergueu ao longo do tempo, este monumento que fica bem ao lado de tantas e tantas catedrais desta Europa, agora, cansada e velha. Aqui o gótico levanta-se de mãos erguidas para o céu, na ânsia infinda de o tocar, misturando-se com o barroco sólido e luxurioso onde o humano parece querer esconder o divino.

   O Douro é um hino a Deus e ao homem!... É circo de espetáculo onde o divino e o humano se digladiam, para se abraçarem mutuamente no fim do jogo.

  A harmonia das suas cores não encontra paralelo, mesmo quando grandes artistas e pintores inspirados nestas imagens, alguma vez, tentaram transpô-las para a tela.

   Verde, vermelho e amarelo, não são cores do arco-íris, nem muito menos de um clube de futebol ou de alguma bandeira de qualquer país, por mais importante que ele seja, mas são as cores deste Douro querido que se oferece a todos nós que ousamos contemplá-lo.

  Que venham turistas e fixem em suas máquinas fotográficas estas imagens únicas e guardem-nas, sobretudo no coração, para as reviverem. Por favor, não passem correndo os que vivem do comércio, nem regateiem generosidade os que fazem da indústria o seu viver. Venham artistas e poetas e fixem-se aqui os amantes da natureza. Venham santos e místicos, cantores e trovadores de valores mais altos e juntem as suas vozes á desta natureza eloquente, para cantarem loas ao Senhor que tudo fez e que gratuitamente no-lo oferece para nosso particular prazer!

   Quem não teve ainda, a oportunidade de descer ou subir o Douro, não se perca por outros caminhos, menosprezando a volatilidade do tempo e venha, porque aqui poderá encontrar o que há tanto tempo procura, mesmo sem o saber: DEUS.

   Ele mora aqui, como por toda a parte onde o homem é capaz de O procurar. Companheiro singular de viagem de quem peregrina pelo mundo, Ele se situa, á distância da sombra que nos acompanha, não como um polícia que nos vigia, mas como um amigo que não nos abandona à solidão.

   Deus pode ver-se em todas as coisas como poderemos ver todas as coisas em Deus. Elas falam Dele e Nele encontra sentido tudo o que para nós não o tem.

   A beleza é a expressão mais acabada de Deus.

   Nas coisas mais pequenas até no miosótis descobrimos a perfeição de Deus.

  Precisamos de olhar contemplativo, neste tempo sem tempo, para o que é importante. Somos esbanjadores do tempo!...Perdemo-nos no que é secundário, entretemo-nos com qualquer coisa como as crianças, sem prestarmos atenção ao que de bom e de belo existe na nossa vida e bordeja os nosso caminhos. Perdemos demasiado tempo com as nossas dores e sofrimentos e damos pouco tempo ás nossas alegrias.

   O amarelo do Douro fala-te da Páscoa e de Ressureição, mesmo, se é Outono. O vermelho fala de amor, mesmo, se é cor de sangue. Um com o outro são cor de fogo, esse espírito que purifica e dá a vida, são Pentecostes. E o verde é esperança que adianta já a Primavera de uma nova vida. O Douro é uma metáfora da Vida!...

   O Douro para que os que crêem é céu já presente, é sinal de amor sem fim, é esperança de vida e de futuro.

   Acreditem os amigos do Douro e façam desta alegoria uma realidade.    

 

Bouça Pires

 

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